Espetáculo Vidas Divididas: até onde você vai para conquistar o sucesso?

domingo, 9 de novembro de 2008

Peça aborda a história de três pessoas que buscam "crescer na vida". O único problema é qual o preço disto?


Preciso concordar com Walter Benjamim quando ele afirma que o teatro é uma das únicas formas de arte que mantém sua aura intacta, já que a aura depende do hic et nunc. Sinto isto quando vou ao teatro, ele não suporta reprodução alguma, ali pode-se sentir claramente o processo de criação original e não uma reprodutibilidade técnica. Assim foi o último sábado no CIC com a peça Vidas Divididas.

Dois grandes nomes da dramaturgia nacional garantem a direção e o texto, que são assinados por Marcos Paulo e pela portuguesa Maria Adelaide Amaral, respectivamente. No elenco, Henri Castelli, Antônia Fontenelle e Fernanda Vasconcelos.

O choque inicial dá-se no primeiro ato, Marisete - interpretada por Fernanda - levanta da cama só de calcinha e, naturalmente, se veste com uma camisa de Nelson. Neste primeiro contato com o público há olhares arregalados de alguns mais conservadores.

O enredo conta a história de três pessoas - todos de origem pobre - que trabalham juntas na mesma empresa. Para ambientar o leitor, vamos aos estereótipos de cada personagem: Nelson é executivo, egoísta e só pensa em ser "alguém na vida" e para conseguir vale tudo; Marisete é subsecretária do chefe de Nelson, se veste de forma estranha, não tem o português correto e "fica" com o Nelson, pelo qual ela é apaixonadíssima; Gisele, ou melhor, Gilberto adora ópera e sonha com a cirurgia que libertará o seu "eu" daquele "negócio", e para isso ela subloca o apartamento para Nelson e faz shows em boates.

A dialética que surge no decorrer do espetáculo nos faz pensar na quantidade de pessoas que se apropriam da ideologia de Nelson para crescer e obter sucesso. Nelson usa as pessoas como se fossem objetos descartáveis, ele termina o relacionamento com Marisete e, com seu mau caráter, consegue ser promovido, ganha um estágio no exterior e ainda casa-se com uma mulher rica. Mesmo assim no final ele não está feliz. Gisele torna-se amiga de Marisete e ensina-a a ser uma mulher elegante, educada e culta. A trama se passa em um único cenário, com pouco efeito de iluminação e algumas trilhas sonoras de óperas e músicas de Roberta Miranda, por exemplo.

O espetáculo consegue arrancar algumas gargalhadas da platéia e nos faz refletir sobre as atitudes que algumas pessoas adotam para si como verdade; sendo cruéis e falsos para conseguirem o que querem. E você, o que faria para ter sucesso nesta vida? Vale a pena passar por cima de toda a ética social e bom senso? Fica a polêmica e a realidade levantada pela peça.

Nenhum comentário: