X Salão Victor Meirelles: uma reconstrução estética da arte

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Mais do mesmo é algo que não se encontra em uma exposição de arte contemporânea. Talvez o único atributo que se encaixaria na premissa mais do mesmo poderia ser o pensamento de algumas pessoas acostumadas com a sensação limitada que a arte clássica transmite ou àqueles milhares de cidadãos impregnadas da infantilização que a mídia acarreta no decorrer da educação básica social. Para adentrar em qualquer lugar onde a proposta é arte contemporânea, primeiro o sujeito deve se libertar de todo pré-julgamento de valor estético.

Muitas vezes o choque é iminente perante uma exposição de arte contemporânea. Aliás, discutir o outro novo, como defende Sueli Lima no livro Experiência Crítica, não é tarefa fácil. Tanto que não há definições, os conceitos ainda são concebidos dia-a-dia tanto por pesquisadores quanto artistas.

O 10º Salão Nacional Victor Meirelles dialoga de forma sutil e marcante com o público por meio de 600 obras concebidas por 29 artistas, entre eles Ricardo Kolb de Joinville, Traplev de Criciúma e Fabiana Wielewicki de Florianópolis. Esta última mostra ao público um trabalho singular que se apropria das técnicas fotográficas para evidenciar um olhar diferente sobre coisas comuns. O trabalho exposto intitula-se 2ª Natureza, brincando com o natural e o artificial, colagens e sobreposições. Uma arte que demole o conceito de belo – muito presente na arte contemporânea -, e nos leva à uma viagem fora do lugar comum.

Fabiana Wielewicki. Azul marinho: díptico, 2007. Fotografia. 50 x 70 (cada)

Afinal, o Salão é um lugar em que a fruição é natural, a aura que Walter Benjamim tanto defende está presente em cada passo dado pelos corredores do Museu de Arte de Santa Catarina - Masc.

O resultado disto é em grande parte responsabilidade do conceituado artista plástico Fernando Lindote, que assina a curadoria de montagem da exposição e, há 20 anos atua no cenário do estado tanto como artista quanto pesquisador.

Passeando pelas salas, ouvindo os comentários avulsos de uns e outros, dá para notar a estranheza, o descontentamento, o deslumbramento e a confusão esclarecedora, dependendo da obra. É realmente a experimentação de uma estética ainda adolescente, até certo ponto desconhecida e pouco entendida.

Numa observação mais minuciosa percebe-se os temas propostos para esta décima edição: paisagem, corpo e objeto. Três palavras que possibilita uma reflexão instigante já que o moderno usa o objeto e o contemporâneo é o próprio objeto. Infelizmente, este entendimento é restrito, as pessoas estão mais preocupadas em ver do que experimentar. A regra é se entregar além da razão, pois querendo ou não a obra de arte do nosso tempo passou a ser tudo e qualquer coisa.

O Salão Nacional Victor Meirelles ocorre a cada dois anos e pode ser visitado até o dia 4 de janeiro no Masc. Paralelo ao Salão, ocorre a Sala Especial – Doraci Girrulat que reúne 10 obras de ex-alunos da artista e ainda ocorre o III Ciclo Museu, Educação e Cultura em Debate.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tudo e qualquer coisa...é isso o que se pensa enquanto caminha pelos corredores do MASC, tentando decifrar o que o arremedo de curadoria da exposição tinha em mente qdo selecionou a abstração de arte que me dei ao trabalho de ir mastigar.
Tudo e qualquer coisa, no que diz respeito a arte, só pode vir da insegurança, da incompetência e da falta de capacidade em determinar se uma determinada obra de arte é boa ou ruim. As faculdades de artes plásticas estão criando uma legião de escritores, que baseiam toda sua "criação" em descritivos rebuscados e enfadonhos, que infelizmente não são expostos junto aos seus "trabalhos", que seriam o verdadeiro deleite de uma exposição pavorosa como o X Salão Victor Meirelles.
Colocar a "culpa" de tamanha atrocidade na arte contemporânea é no mínimo injusto, visto que em lugares como São Francisco na Califórnia, ou Nova Iorque, o nível de qualidade é desproporcionalmente superior ao que vemos no tal salão, além de outros excelentes artistas contemporâneos brasileiros.
Só o que vejo são oportunistas, produzindo QUALQUER COISA, escolhendo o que fazem pra agradar aos digníssimos críticos e teóricos da arte com seus textos cheios de conceito e semiótica, e não para expressar algo, e sim para tentar conseguir alguma projeção e uns trocados.
Enquanto os "artistas" só produzirem para sí mesmos e para outras pessoas do meio, a arte se perde em sí mesma, e não tem nenhum sentido pra quem realmente deveria importar, que é o público, a pessoa média, que quer levar os filhos à uma exposição de arte e poder explicar o que as coisas significam, ou pelo menos tentar uma interpretação própria, mas quando um cidadão médio se depara com um bloco de granito no corredor de uma exposição dita de arte, cá entre nós, o que será que se passa na cabeça do pobre coitado se seus filhos perguntarem alguma coisa.
Essa presunção artística, esse egocentrismo pseudo-intelectual, só farão afundar mais a cena artística brasileira, que já agoniza faz alguns anos na mão de curadorias corruptas e/ou incompetentes.

Anônimo disse...

Ai, eu adorei as fotos das árvores dentro das casas. Acho mesmo que um sujeito merece 25,000 reais para tirar esse tipo de foto.

Será que eu ganho um prêmio pelo meu álbum do orkut?

Essa exposição foi uma péssima experiência, eu não vejo graça em barraco de madeira pintado de cor de rosa (convenhamos: na favela tá cheio), eu não acho que quadros no estilo publicitário são arte e execro a filmagem da superfície da água se movendo tediosa e ininterruptamente.
Preciso falar daquele imenso pedaço de tijolo no meio do salão?

Ah, mas vai ver que é pq eu não faço artes plásticas. Tá explicado.